quinta-feira, 14 de abril de 2011

Pessoas arriscam a saúde em busca do corpo perfeito

“Graças à visão capitalista, pessoas encontram dificuldades em desassociar a beleza física, do status e do posicionamento na sociedade”


 Por: Franclin Duarte


A obsessão pela beleza não escolhe idade, cor, sexo ou classe social. Pessoas de famílias ricas podem ter tudo o que desejam em sentido material, mas talvez ainda não se sintam felizes por conta de sua aparência. Por outro lado, há pessoas que se sentem rejeitadas, achando que ninguém jamais se interessará por elas, por se considerarem feias. Jovens e até crianças se sentem excluídos pelos colegas devido à sua aparência, por serem considerados gordos, magros ou feios.
Esse então pode ser o motivo do número de cirurgias plásticas aumentarem todos os dias. O fenômeno é mundial, mas no Brasil, os dados são alarmantes. As brasileiras são as que mais idealizam as cirurgias plásticas estéticas. Uma pesquisa feita pela Unilever, em 2010, com mulheres de 10 países com 3,3 mil entrevistadas mostrou que as brasileiras estão em primeiro lugar entre as que desejam passar por esse procedimento. É o sonho de 63% delas, contra 38% das mexicanas, 30% das sauditas e 25% das americanas. A mesma pesquisa revelou que 89% das brasileiras gostariam de mudar algo em seu corpo.
Essa insatisfação com a própria imagem refletida no espelho acaba atingindo o cotidiano dessas mulheres, a ponto de impedir que elas desempenhem tarefas do dia-a-dia. Ainda de acordo com a pesquisa, sete em cada dez mulheres desistem de fazer alguma coisa quando estão se sentindo horrorosas, como ir à praia, a uma festa, a uma entrevista de emprego ou até mesmo ao trabalho. Outros estudos mostram que mesmo entre pessoas consideradas bonitas, os índices de insatisfação com o próprio corpo chegam a 100%.
Fanática por atividades físicas e tratamentos de beleza, a estudante Rafaela Pimenta, 22, não perde a chance de se cuidar. Com tendência a ganhar peso com facilidade, ela não descansa enquanto não acha que está bem. “Fico péssima se não vou à academia, tenho de estar sempre em movimento. Se como demais em um dia, malho dobrado no outro. É hipocrisia dizer que as pessoas não ligam se você está gorda ou magra. Fui bem gordinha na adolescência e senti na pele o que é ser motivo de piadinhas e preconceito”, diz ela, que não hesitou ao passar por algumas cirurgias plásticas depois de emagrecer. “Fiz e faria de novo, se precisasse. O importante é a gente se sentir bem na frente do espelho”, afirmou. 
E não são apenas as mulheres que se preocupam com a aparência. Os homens também. Não é de se admirar que haja um crescimento na venda de cosméticos destinados exclusivamente ao público masculino. Muitos homens passam um tempo considerável em academias, tentando modelar e tonificar o corpo.
Muitos acreditam que, na maioria das vezes, o sucesso parece depender da aparência. Aquelas consideradas bonitas parecem ter mais chances de se tornarem bem-sucedidas no mercado de trabalho. Não surpreende que muitos estejam dispostos a fazer qualquer sacrifício na busca pela beleza, seja deixar de comer, praticar exercícios extremos ou submeter-se ao uso de esteróides e anabolizantes.
 
Os riscos trazidos por anabolizantes:

O uso de “bombas” pode trazer diversos efeitos colaterais no homem, entre eles o crescimento de barba, acne, calvície, engrossamento da voz e agressividade. Além disso, ainda pode provocar o câncer de próstata, de fígado e ósseo; a rigidez muscular que normalmente provoca fraturas espontâneas; as lesões articulares, musculares e de tendão, pois estes não se adaptam rapidamente à força muscular adquirida.
O estudante J.M.L.S, 20, sentiu estes sintomas na pele. Aos 16 anos, por ser muito caçoado na infância, pois era gordinho, decidiu tomar anabolizantes. Após a decisão, foi até uma academia, e após seis meses de malhação intensa conseguiu comprar os remédios por meio do amigo de um dos instrutores da academia.
Após pagar a quantia de R$ 100, comprou duas caixas de um remédio chamado Hemogenin. Como tinha muita vontade de crescer rápido, tomou as cápsulas do remédio sem nenhuma indicação, o que lhe trouxe uma série de efeitos colaterais. “Eu estava com tanta vontade de crescer rápido, que nem pensei em pesquisar a respeito dos efeitos que ele poderia me trazer. Se tivesse pesquisado talvez não teria passado por tudo que passei”, afirmou o estudante, arrependido.
Segundo ele, nas primeiras semanas os resultados foram satisfatórios, os músculos começaram a crescer e se definir, todos começaram a elogiá-lo por sua excelente forma física. No entanto, exatamente dois meses depois, começaram a aparecer espinhas e manchas em sua pele, ele sempre se sentia nervoso e sentia muitas dores em seu corpo.“Eu nunca tinha tido uma espinha sequer em meu rosto, e em menos de dois meses, começaram a surgir espinhas por todo o meu corpo, não podia ouvir a voz da minha irmã que já queria bater nela, isso sem falar nas dores que sentia todos os dias nas juntas do meu corpo”, contou ele.
Quatro anos depois, ainda é possível ver as marcas pelo corpo do jovem. São dezenas de manchas e cicatrizes de espinhas espalhadas por todo o peito e nas costas. “As pessoas que me zoavam por eu ser gordo passaram a me chamar de vulcão, maxixe, jacona podre, entre outros. Se pudesse voltar atrás gostaria de ser apenas o gordinho de sempre”, concluiu o estudante, com os olhos cheios de água.
Segundo a psicóloga Marineide Melo Bestete, essa exclusão que o estudante cita devido a sua aparência, se deve à sociedade capitalista “Graças a essa visão capitalista de hoje, muitas pessoas encontram dificuldades em desassociar a beleza física, do status e das condições de se posicionar melhor em profissões ou na sociedade em geral”, explicou a psicóloga.

É possível chegar a uma boa forma apenas malhando
O estudante Marcio Peruchi decidiu entrar em forma apenas malhando. “No início eu comecei a fazer academia apenas por estética, porque eu cresci muito rápido e o meu corpo não acompanhou este crescimento. Não vou mentir, eu já pensei em tomar ‘bombas’, pois às vezes os resultados são surpreendentes, mas quando eu fiquei sabendo dos efeitos que eles podiam trazer decidi ‘crescer’ apenas malhando”, disse ele.
Marcio faz academia há quatro anos e se diz contente com o corpo que tem. “Eu não me considero um metro sexual, mas me preocupo muito com minha aparência. Agora eu estou com um corpo legal, é por isso que eu faço academia, não faço para os outros mas sim pra ficar bem comigo mesmo", afirmou o estudante.
Segundo o professor de educação física Paulo Roberto Cunha, para quem quer ganhar músculos, a única opção é se exercitar e se aceitar. “É genética. Algumas pessoas vão ser grandes, outras vão ser magras. Algumas têm facilidade para ganhar músculos, outras vão precisar se exercitar muito mais e embora fiquem em forma jamais ficarão do tamanho de um armário”, disse Paulo. Para ele, quem duvida do resultado do esporte só precisa ficar de olho nas Olimpíadas. “Os Jogos Olímpicos realizaram centenas de testes antidoping e mostraram que é possível sim chegar a resultados fantásticos sem a ajuda e os riscos dos remédios para crescimento”, disse.
O professor deixou um recado para aqueles que dizem conhecer vários usuários que tomaram e nunca tiveram problemas. “Existem pessoas que cheiram cocaína e nunca se viciam. Há pessoa que fazem sexo desprotegido e não pegam Aids. Isso não significa que cocaína e sexo sem proteção sejam seguros”, explica. “Remédio seguro não causa problema nenhum nunca, em ninguém. Com a quantidade de câncer, infertilidade e transtornos psiquiátricos que vemos, dizer que os anabolizantes são seguros é irresponsabilidade”, completou.
Nas mulheres o uso desses remédios pode trazer irregularidades como as disfunções hormonais, hipertrofia do clitóris, diminuição das mamas, engrossamento da voz, acne, queda de cabelos e crescimento de pelos no corpo. As pessoas que resolveram parar relataram tonturas, fraqueza, perda da libido e dores articulares, reações que acabam levando à dependência.
Mesmo sabendo de todos os efeitos colaterais que o uso dessas substâncias pode trazer, a estudante S.N, 19, disse que tomaria sim, apenas por estética. “Eu não tomei ainda porque não tenho dinheiro e também porque tenho medo de engordar, mas eu tomaria tranqüila. Pode ser que lá na frente isso venha a me comprometer, mas a gente nunca pensa lá na frente, a gente só pensa no hoje”, afirmou a estudante, dizendo que ainda faria qualquer coisa por estética.
A obsessão de S.N, pela beleza, pode ser comparada com casos famosos como o da Mulher Barbie e o do rei do pop Michael Jackson, ambos faziam tudo por estética. Os resultados, todos já conhecem.

J.M.L.S: Quatro anos depois, ainda é possível ver as marcas pelo corpo do jovem. São dezenas de manchas e cicatrizes de espinhas espalhadas por todo o peito e nas costas

Marcio: “Não vou mentir, eu já pensei em tomar ‘bombas’, pois às vezes os resultados são surpreendentes, mas quando eu fiquei sabendo dos efeitos que eles podiam trazer decidi ‘crescer’ apenas malhando”

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