“Graças à visão capitalista, pessoas encontram
dificuldades em desassociar a beleza física, do status e do posicionamento na
sociedade”
Por: Franclin Duarte
A obsessão pela beleza
não escolhe idade, cor, sexo ou classe social. Pessoas de famílias ricas podem
ter tudo o que desejam em sentido material, mas talvez ainda não se sintam felizes
por conta de sua aparência. Por outro lado, há pessoas que se sentem
rejeitadas, achando que ninguém jamais se interessará por elas, por se
considerarem feias. Jovens e até crianças se sentem excluídos pelos colegas
devido à sua aparência, por serem considerados gordos, magros ou feios.
Esse então pode ser o
motivo do número de cirurgias plásticas aumentarem todos os dias. O fenômeno é
mundial, mas no Brasil, os dados são alarmantes. As brasileiras são as que mais
idealizam as cirurgias plásticas estéticas. Uma pesquisa feita pela Unilever,
em 2010, com mulheres de 10 países com 3,3 mil entrevistadas mostrou que as
brasileiras estão em primeiro lugar entre as que desejam passar por esse
procedimento. É o sonho de 63% delas, contra 38% das mexicanas, 30% das
sauditas e 25% das americanas. A mesma pesquisa revelou que 89% das brasileiras
gostariam de mudar algo em seu corpo.
Essa insatisfação com a
própria imagem refletida no espelho acaba atingindo o cotidiano dessas
mulheres, a ponto de impedir que elas desempenhem tarefas do dia-a-dia. Ainda
de acordo com a pesquisa, sete em cada dez mulheres desistem de fazer alguma
coisa quando estão se sentindo horrorosas, como ir à praia, a uma festa, a uma
entrevista de emprego ou até mesmo ao trabalho. Outros estudos mostram que
mesmo entre pessoas consideradas bonitas, os índices de insatisfação com o
próprio corpo chegam a 100%.
Fanática por atividades
físicas e tratamentos de beleza, a estudante Rafaela Pimenta, 22, não perde a
chance de se cuidar. Com tendência a ganhar peso com facilidade, ela não
descansa enquanto não acha que está bem. “Fico péssima se não vou à academia,
tenho de estar sempre em
movimento. Se como demais em um dia, malho dobrado no outro.
É hipocrisia dizer que as pessoas não ligam se você está gorda ou magra. Fui
bem gordinha na adolescência e senti na pele o que é ser motivo de piadinhas e
preconceito”, diz ela, que não hesitou ao passar por algumas cirurgias
plásticas depois de emagrecer. “Fiz e faria de novo, se precisasse. O
importante é a gente se sentir bem na frente do espelho”, afirmou.
E não são apenas as
mulheres que se preocupam com a aparência. Os homens também. Não é de se
admirar que haja um crescimento na venda de cosméticos destinados
exclusivamente ao público masculino. Muitos homens passam um tempo considerável
em academias, tentando modelar e tonificar o corpo.
Muitos acreditam que, na
maioria das vezes, o sucesso parece depender da aparência. Aquelas consideradas
bonitas parecem ter mais chances de se tornarem bem-sucedidas no mercado de
trabalho. Não surpreende que muitos estejam dispostos a fazer qualquer
sacrifício na busca pela beleza, seja deixar de comer, praticar exercícios
extremos ou submeter-se ao uso de esteróides e anabolizantes.
Os riscos trazidos por anabolizantes:
O uso de “bombas” pode
trazer diversos efeitos colaterais no homem, entre eles o crescimento de barba,
acne, calvície, engrossamento da voz e agressividade. Além disso, ainda pode
provocar o câncer de próstata, de fígado e ósseo; a rigidez muscular que
normalmente provoca fraturas espontâneas; as lesões articulares, musculares e
de tendão, pois estes não se adaptam rapidamente à força muscular adquirida.
O estudante J.M.L.S, 20,
sentiu estes sintomas na pele. Aos 16 anos, por ser muito caçoado na infância,
pois era gordinho, decidiu tomar anabolizantes. Após a decisão, foi até uma
academia, e após seis meses de malhação intensa conseguiu comprar os remédios
por meio do amigo de um dos instrutores da academia.
Após pagar a quantia de
R$ 100, comprou duas caixas de um remédio chamado Hemogenin. Como tinha muita
vontade de crescer rápido, tomou as cápsulas do remédio sem nenhuma indicação,
o que lhe trouxe uma série de efeitos colaterais. “Eu estava com tanta vontade
de crescer rápido, que nem pensei em pesquisar a respeito dos efeitos que ele
poderia me trazer. Se tivesse pesquisado talvez não teria passado por tudo que
passei”, afirmou o estudante, arrependido.
Segundo ele, nas
primeiras semanas os resultados foram satisfatórios, os músculos começaram a
crescer e se definir, todos começaram a elogiá-lo por sua excelente forma
física. No entanto, exatamente dois meses depois, começaram a aparecer espinhas
e manchas em sua pele, ele sempre se sentia nervoso e sentia muitas dores em
seu corpo.“Eu nunca tinha tido uma espinha sequer em meu rosto, e em menos de
dois meses, começaram a surgir espinhas por todo o meu corpo, não podia ouvir a
voz da minha irmã que já queria bater nela, isso sem falar nas dores que sentia
todos os dias nas juntas do meu corpo”, contou ele.
Quatro anos depois,
ainda é possível ver as marcas pelo corpo do jovem. São dezenas de manchas e
cicatrizes de espinhas espalhadas por todo o peito e nas costas. “As pessoas
que me zoavam por eu ser gordo passaram a me chamar de vulcão, maxixe, jacona
podre, entre outros. Se pudesse voltar atrás gostaria de ser apenas o gordinho
de sempre”, concluiu o estudante, com os olhos cheios de água.
Segundo a psicóloga Marineide Melo
Bestete, essa exclusão que o estudante cita devido a sua aparência, se deve à
sociedade capitalista “Graças a essa visão capitalista de hoje, muitas pessoas
encontram dificuldades em desassociar a beleza física, do status e das
condições de se posicionar melhor em profissões ou na sociedade em geral”,
explicou a psicóloga.
É possível chegar a uma boa forma apenas malhando
O estudante Marcio Peruchi decidiu entrar
em forma apenas malhando. “No início eu comecei a fazer academia apenas por
estética, porque eu cresci muito rápido e o meu corpo não acompanhou este
crescimento. Não vou mentir, eu já pensei em tomar ‘bombas’, pois às vezes os
resultados são surpreendentes, mas quando eu fiquei sabendo dos efeitos que eles
podiam trazer decidi ‘crescer’ apenas malhando”, disse ele.
Marcio faz academia há quatro anos e se
diz contente com o corpo que tem. “Eu não me considero um metro sexual, mas me
preocupo muito com minha aparência. Agora eu estou com um corpo legal, é por
isso que eu faço academia, não faço para os outros mas sim pra ficar bem comigo
mesmo", afirmou o estudante.
Segundo o professor de educação física
Paulo Roberto Cunha, para quem quer ganhar músculos, a única opção é se
exercitar e se aceitar. “É genética. Algumas pessoas vão ser grandes, outras
vão ser magras. Algumas têm facilidade para ganhar músculos, outras vão
precisar se exercitar muito mais e embora fiquem em forma jamais ficarão do
tamanho de um armário”, disse Paulo. Para ele, quem duvida do resultado do
esporte só precisa ficar de olho nas Olimpíadas. “Os Jogos Olímpicos realizaram
centenas de testes antidoping e mostraram que é possível sim chegar a
resultados fantásticos sem a ajuda e os riscos dos remédios para crescimento”,
disse.
O professor deixou um recado para aqueles
que dizem conhecer vários usuários que tomaram e nunca tiveram problemas.
“Existem pessoas que cheiram cocaína e nunca se viciam. Há pessoa que fazem
sexo desprotegido e não pegam Aids. Isso não significa que cocaína e sexo sem
proteção sejam seguros”, explica. “Remédio seguro não causa problema nenhum
nunca, em ninguém. Com
a quantidade de câncer, infertilidade e transtornos psiquiátricos que vemos,
dizer que os anabolizantes são seguros é irresponsabilidade”, completou.
Nas mulheres o uso
desses remédios pode trazer irregularidades como as disfunções hormonais,
hipertrofia do clitóris, diminuição das mamas, engrossamento da voz, acne,
queda de cabelos e crescimento de pelos no corpo. As pessoas que resolveram
parar relataram tonturas, fraqueza, perda da libido e dores articulares,
reações que acabam levando à dependência.
Mesmo sabendo de todos
os efeitos colaterais que o uso dessas substâncias pode trazer, a estudante
S.N, 19, disse que tomaria sim, apenas por estética. “Eu não tomei ainda porque
não tenho dinheiro e também porque tenho medo de engordar, mas eu tomaria
tranqüila. Pode ser que lá na frente isso venha a me comprometer, mas a gente
nunca pensa lá na frente, a gente só pensa no hoje”, afirmou a estudante, dizendo
que ainda faria qualquer coisa por estética.
A obsessão de S.N, pela
beleza, pode ser comparada com casos famosos como o da Mulher Barbie e o do rei
do pop Michael Jackson, ambos faziam tudo por estética. Os resultados, todos já
conhecem.
J.M.L.S: Quatro anos depois, ainda é possível ver as marcas pelo corpo do jovem. São dezenas de manchas e cicatrizes de espinhas espalhadas por todo o peito e nas costas |
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